Cerro de Pasco, o futuro de Paracatu (MG)

por Eng. de Minas Mario A. Ortega Noriega
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Projetar e operar uma mineração com proficiência é uma tarefa que exige o melhor do Engenheiro de Minas que se propõe a executá-la.

Um empreendimento mineral mal administrado, ou mal-intensionado, com responsáveis técnicos despreparados, pode acarretar numa sequência desastrosa de eventos que vão desde grandes prejuízos financeiros até a perca de inúmeras vidas humanas. Neste contexto, a cidade de Paracatu (MG) está flertando perigosamente com vários destes, senão todos, eventos desastrosos.

Operando na cidade de Paracatu desde de 2005, a Kinross (uma multinacional Canadense) opera de forma no mínimo obscura, contudo, os resultados desta operação parecem ser bem evidentes para a população local, que sofre do pior tipo de contaminação advindo de uma mineração de ouro a contaminação por Arsênio (como podemos observar na reportagem abaixo).

Se você leu até aqui, deve estar se perguntando, “O que o futuro de Paracatu tem a ver com o atual cenário da cidade peruana de Cerro de Pasco?”

Pois bem, eu te respondo a seguir; com 400 anos de idade, a cidade de Cerro de Pasco está localizada a 4000m de altitude, na cordilheira dos Andes Peruana. Com uma formação geológica muito rica em prata, zinco, chumbo, cobre entre outros minerais, a localidade foi explorada e explotada desde os primórdios da colonização espanhola. Essa exploração nunca teve nenhum tipo de controle por parte das autoridades locais e, mais recentemente, verificou-se, da pior maneira, as consequências do descontrole da contaminação ambiental (como podemos assistir na reportagem do NY Times).

Os atuais donos da mina de 1,3 quilómetros quadrados e 402 metros de profundidade, uma empresa peruana chamada Volcan (controlada pela empresa suíça Glencore), vêm comprando o que resta da “Cava” determinados em alcançar o valioso zinco, cobre e chumbo que existem abaixo do centro da cidade. Quando questionados sobre os extensos danos ao meio ambiente a empresa insiste que eles não são os responsáveis. A expansão do buraco parece iminente, usando sempre da velha história e justificativa, “gerar emprego” ao custo da saúde dos seres humanos e do meio ambiente.

Foto: Maxim Holland

A empresa já foi acusada por inspetores internacionais de não se esforçar o suficiente para proteger a saúde dos cidadãos, mas seus administradores responderam que não são responsáveis pelos crescentes desafios ambientais e urbanos da cidade, insistindo que eles são o resultado de 400 anos de uma administração “porca”.

Estudo financiado pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, descobriu que 91% das crianças e 82% das mulheres em idade fértil tinham o nível sanguíneo de pelo menos um metal pesado acima do recomendado— uma contaminação cujos efeitos podem resultar em falência dos rins, danos ao fígado, problemas de crescimento e deficiências intelectuais.

Cidede de Cerro de Pasco Foto: internet

Agora começa a ficar clara as semelhanças entre as duas cidades, contudo o caso de Cerro de Pasco está em um estágio de destruição bem mais avançado que o de Paracatu, o que não facilita em nada a vida de quem vive na cidade.

A Kinross afirma, em nota, que “a presença de arsênio em Paracatu se dá de forma natural”, e que os rios que estão contaminados “se tratam de cursos d’água que no passado, principalmente na década de 80, sofreram impactos gerados pelas atividades garimpeiras que têm ocorrido desde os anos 1700 na cidade”. Estas atividades, segundo a empresa, teriam sido “executadas sem nenhum acompanhamento técnico e causaram impactos não controlados à época”.

Segundo o CETEM, o rio Santo Antônio tem uma concentração de arsênio 189 vezes superior à permitida pelo CONAMA. O sedimento do fundo do córrego, em alguns trechos, tem uma concentração da substância 252 vezes maior do que o permitido, são 4.297,2 miligramas do mineral por quilo, ante os 17 mg/kg permitidos pela legislação em vigor. E a água do rio é imprópria para o consumo humano em diversos pontos analisados – em um deles não poderia ser usada nem mesmo para irrigação ou consumo animal.

Cidade de Paracatu (MG) Foto: Gustavo Basso

A Kinross construiu duas barragens de rejeitos – restos de produtos químicos e rochas no processo de exploração – em Paracatu, que dominam grande parte do horizonte da cidade. A mais recente, construída em 2006, inundou o vale do Machadinho, que era lar da comunidade quilombola de mesmo nome. De acordo com o Ministério Público Federal, os descendentes de escravos foram pressionados pela mineradora a venderem suas terras.

Outro quilombo foi “comprado” para que suas terras fossem usadas na construção da barreira no vale. Hoje os enormes “lagos” tóxicos ocupam uma área de mais de 3.000 hectares, que comportam quase dois bilhões de toneladas de rejeitos.

O Geólogo Santos acredita que, como as barragens ficam em uma área de fratura geológica, os resíduos tóxicos se infiltrem no lençol de água subterrâneo.

“Os rejeitos químicos da lama despejada lá reagem com a argila do fundo da barragem, aumentando ainda mais a fratura. Por isso os córregos situados abaixo da barragem estão contaminados”, explica. O relatório do CETEM, embasa a conclusão do geólogo: dos 11 rios da cidade analisados, seis apresentaram amostras de água e solo contaminadas com arsênio.

Cidade e Mineração Paracatu Foto: Internet

CONCLUSÃO

São duas frases, com um grande significado “A Cidade Engolida pela Mineração” Cerro de Pasco – Perú e “A Cidade que a Mina Engoliu” Paracatu – Brasil.

“O ser humano não tem nenhum valor” o Meio Ambiente coitado! O OURO, tem que ser respeitado, tem que ser venerado, reverenciado.

Analisando o caso de duas EMPRESAS DE MINERAÇÃO, operando a céu aberto, na mineração de ouro, e outros metais, ambas situadas na América Latina , a uma distância de 3.190,87 km um da outra, Cerro de Pasco – Peru e Paracatu – Brasil. Considerando que o estágio de destruição da mina Peruana simplesmente é assustador, e da mina Brasileira está no mesmo caminho, provocando contaminação dos seres humanos, destruição do meio ambiente, e as riquezas minerais exploradas, não revertem em beneficio para o País, no caso do Brasil as exportações são isentas Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS os Estados e Municípios onde ficam as minas não se beneficiam e ficam com as doenças e o impacto ambiental.

Tanto no Perú como no Brasil, a tributação para as corporações mineiras, são muito benéficas para elas e prejudiciais para o País.

Os Governantes tem que ter muito cuidado com a falta de “Amor à Pátria” e a “Corrupção endêmica”, assim como os colegas Engenheiros de Minas e Geólogos, que exercem uma profissão de altíssima responsabilidade e de grande periculosidade, também tem que defender a sociedade e o meio ambiente conforme o juramento.

Mario A. Ortega Noriega
Eng.de Minas CREA 7547/D-MG
marioortega@bol.com.br
www.ekomine.com

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